Casal de Matosinhos adota criança com Trissomia 21 e outra de etnia cigana

Trissomia 21
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Um casal do Matosinhos rompeu com a “prática habitual” em Portugal na adoção de crianças e no espaço de quatro anos adotou duas meninas, uma com trissomia XXI e outra de etnia cigana.

Ana Sousa e o marido, Carlos Pereira, encetaram esta “aventura” em 2011, disse a mulher à Lusa, explicando que escolheram a Bruna e a Beatriz porque as duas crianças “não tinham grandes possibilidades” de serem adotadas.

Em Portugal as pessoas preferem bebés saudáveis e por isso é que ficam muito tempo à espera, esquecendo-se das outras que são mais velhas ou têm problemas de saúde“, explicou Ana Sousa que em fevereiro de 2011 fez o primeiro pedido de adoção à Segurança Social, no Porto.

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Na instituição Casa do Caminho, em Matosinhos, encontrou a menina, a Bruna, portadora de Trissomia XXI, e “em junho tinha a criança em casa“, revelou.

Institucionalizada desde o 22.º dia de vida, após ter sido abandonada ainda na Maternidade Júlio Dinis (Porto), a Bruna chegou aos cinco anos “sem ter tido colo, carinho, estímulo e por isso não falava, usava fraldas e não possuía autonomia para comer”, segundo a mãe adotiva.

“Era como se fosse um bebé”, sublinhou.

Uma vez em casa “era como se lá tivesse estado sempre” e, em “agosto, deixou de usar fralda durante o dia” porque em setembro entrava para a pré-primária, detalhe que gerou algum receio nos pais devido ao problema de comunicação.

“No quarto ano do ensino normal numa escola pública, é hoje autónoma, vai à cantina, biblioteca e brinca com os outros meninos”, explicou Ana Sousa.

Conhecemos então a Beatriz, de etnia cigana, que fora retirada à família por maus tratos e, quatro anos depois, quando vimos que a Bruna estava pronta para receber uma irmã, avançámos com a candidatura. Três meses depois, estava em casa a criança do sexo feminino, de nove anos e de etnia cigana que ninguém quisera. Hoje, está no sexto ano escolar”, relatou.

Como é uma criança mais velha, “ainda está em processo de adaptação à sociedade pois saiu de uma família difícil para ficar fechada numa instituição e ainda hoje não tem noção de algumas situações que para nós são básicas”, contou Ana Sousa.

Hoje dão-se como irmãs, nuns dias bem noutros não, têm um relacionamento normal“, congratulou-se.

O casal considera “natural” a opção pela adoção e lamenta não poder aumentar o número de filhos. Era algo “economicamente inviável” já que suporta “todos os custos da terapia da Bruna, a que o Estado não dá respostas e que tem de procurar no privado”.

Não temos seguro de saúde porque as seguradoras consideram a Bruna uma doente quando ela não o é, apenas tem um cromossoma a mais e está menos vezes doente que as outras crianças”, disse.

Das “barreiras” que disse encontrar neste percurso, Ana Sousa lamentou que “a sociedade não esteja preparada para uma criança com uma diferença entre os ditos normais“, mas nada que a faça baixar os braços.

“No início deste ano letivo, para ter todo o apoio que ela tem direito, tive de recorrer ao Provedor de Justiça”, contou Ana Sousa confessando desconhecer até então que “os alunos com Necessidades Educativas Especiais têm direito ao escalão A de apoio social”.

Mostrando desagrado pela forma como em Portugal “se continua a tratar o tema ao nível das instituições de apoio social“, Ana Sousa deixou uma “certeza”: “Sei que ela não vai ser totalmente independente, que precisará de ajuda, mas não quero ter a de sustentar. Quero que ambas sejam capazes de trabalhar e de o fazer por si”.

in NM


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