Sobre o Memorial ao Operário Conserveiro

memorial ao operário conserveiro
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Joaquim MonteiroEsta semana saiu na comunicação social a notícia de que a Câmara Municipal de Matosinhos vai gastar 206 mil euros por um memorial ao operário conserveiro.

É indiscutível a justiça de tal monumento. Matosinhos foi e continua a ser, um concelho piscatório. É completamente impossível dissociar a vida de Matosinhos do quotidiano dos pescadores. E ligada à pesca temos a atividade conserveira. Matosinhos foi um baluarte nacional no que à indústria conserveira diz respeito, chegando a haver mais de cinquenta fábricas de conservas. Ainda hoje temos no concelho duas das marcas de conservas que mais dignificam o país: a Pinhais e a Ramirez.

[h2]Memorial ao Operário Conserveiro do escutltor Rui Anahory[/h2]

Também me parece de toda a justiça que a execução de tal memorial caiba a um «matosinhense», não sei se por nascença ou por residir no concelho há vários anos. Neste caso, refiro-me ao escultor Rui Anahory.

Contudo, creio que numa altura de crise, em que o dinheiro público deve ser gerido quase como que o orçamento familiar, a Câmara Municipal de Matosinhos poderia e deveria arranjar outras formas de financiamento para esta obra. Não podemos esquecer que estamos a falar de uma Câmara Municipal que recusou baixar o IMI aos matosinhenses sob o pretexto de precisar do dinheiro deste imposto para manter o equilíbrio do orçamento camarário. É certo que o IMI é uma das principais fontes de financiamento das autarquias, mas também é verdade que é um dos impostos que mais penaliza as famílias pelos valores que abarca.

Por esse Portugal fora são inúmeras as autarquias que adquirem obras de arte deste género recorrendo ao mecenato cultural. Matosinhos podia e devia recorrer também a este mecenato para financiar esta obra. No concelho de Matosinhos temos algumas grandes empresas nacionais que têm já uma certa tradição no que respeita ao mecenato.

Por outro lado e ainda imbuído do espírito do mecenato, a encomenda de uma obra destas podia ser utilizada para a promoção dos jovens artistas do concelho de Matosinhos. Entendo a posição da Câmara de Matosinhos pela denominada «obra de autor» já que consegue que a mesma tenha uma visibilidade maior no panorama cultural português. Esta decisão está na linha das opções tomadas no passado por obras que tenham a assinatura de artistas já consagrados, como aconteceu por exemplo na marginal de Leça da Palmeira.

No entanto, num país em que os jovens têm uma grande dificuldade em se impor, em que a cultura é muitas vezes colocada numa posição de inferioridade em relação à economia em geral, o lançamento de um concurso para jovens artistas matosinhenses poderia ser uma rampa de lançamento para alguns dos nossos jovens estudantes das escolas de Belas Artes.

Mas voltando ao memorial ao operário conserveiro e sendo eu filho de uma antiga funcionária da Ramirez, quero uma vez mais manifestar o meu agrado pela execução de tal obra. Acresce que esta obra vai surgir num contexto de reabilitação urbana o que é ainda mais relevante. Já é tempo de em Matosinhos termos espaços urbanos modernos, dinâmicos, que atraiam visitantes mas, sobretudo, que tragam qualidade de vida aos matosinhenses.

Desejo que a reabilitação urbana passe a ponte móvel e se estenda para os lados de Leça da Palmeira pois a denominada zona histórica de Leça bem precisa de uma intervenção séria e profunda e tal não pode ser deixado ao livre arbítrio dos donos dos prédios. O número de casas devolutas, abandonadas, ou simplesmente fechadas, continua muito elevado naquela que é uma das áreas mais bonitas de Leça da Palmeira.

Não é preciso ir muito longe para vermos bons exemplos de recuperação de zonas históricas. Aqui ao lado, Vila do Conde é um excelente exemplo.

Até à próxima semana.

Saudações leceiras

Joaquim Monteiro


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3 Comentários

  • Sou natural de Leça´. Tenho só 74 anos. No contesto atual da longevidade posso considerar-me “ainda” jovem.
    Há muitos anos que parti para África e de lá voltei. Agora vivo na Capital.
    Sobre o assunto de que trata o artigo só tenho a dizer que também a minha mãe trabalhou na “Ramirez” e na “Bata”. Julgo que esta ultima já não existe. Ficava na Rua que Liga a Rua Óscar da Silva à antiga Bateria de costa que, julgo, também já não existir.
    Sei os sacrifícios que as operárias sofreram naquele tempo e a ansiedade que esperavam o tocar da sirene indicando a chegada da sardinha para, a correr, conseguirem uma vaga para os lugares necessários para a industria. Nada mais justo do que uma homenagem, modesta que seja àqueles que ali deram o seu suor e sangue (sim sangue que as escamas e espinhas a isso conduziam”. Quando tal se der e eu tiver conhecimento dessa homenagem terei todo o gosto em estar presente e, por certo, deixar correr uma lágrima pela minha mãe e por todos os que, como ela, lutaram por uma vida melhor para si e os seus filhos. BEM HAJA pel niticia

  • Memorial ao operário conserveiro é demasiado curto e pouco condizente com a dimensão e importância desta industria neste conselho pelo que uma casa museu (só falta edifício porque recheio não falta) é que poderá dar expressão ao que foi e é esta industria. Financiar em primeiro museu arquitetura, designe e da diáspora é inverter a historia de matosinhos(bom exemplo o do museu da pesca dobacalhau em ílhavo, etc….) a não ser que se pretenda lavar a face com este memorial e com a manutenção das barracas e assadores na via pública de todos que metem nojo só para se afirmar como nova catedral da restauração do peixe.
    Enfim obras da treta para inglês vêr.

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