Memórias do Senhor de Matosinhos!

Senhor de Matosinhos Antigo
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Estando a decorrer as festas do Senhor de Matosinhos relembro-me de alguns pormenores que me marcaram na minha meninice, adolescência e juventude.

Relembro-me dos tempos em que a ida ao Senhor de Matosinhos era um dos pontos mais altos do ano. Eram outros tempos, em que raramente saíamos de Leça, nem sequer sabíamos o que era passar férias fora de Leça. Isso era para os «ricos». É certo que havia mais festas durante o ano, nomeadamente as “rifas” dos santos populares e as festas de Santana, mas nada que se comparasse com as festas do Senhor de Matosinhos. Nas restantes festas era praticamente só o pessoal de Leça, era quase um convívio. Nas festas do Senhor de Matosinhos era «um mar de gente», uma loucura, algo nunca visto. Tantas barracas, tantos brinquedos, tanta gente.

Conforme vamos crescendo a visão das festas vai-se alterando. Na adolescência a primazia passa para o parque dos divertimentos, para os carrosséis.  Era a nossa oportunidade de dar uns tiros ou lançar umas setas, jogar uns matraquilhos (vulgo matrecos), guiar carros de choque, enfim, sentirmo-nos a crescer e a tornar-nos adultos. Simultaneamente era o descobrir de uma nova sensação, o tempo das saídas em grupo, com os amigos, deixando um pouco a família. E daí à descoberta da realidade do namoro era um pequeníssimo passo.

As festas do Senhor de Matosinhos são mágicas.

Quando chegamos a adultos tudo muda. Passamos a ver as festas mais para o passeio dos filhos, recorrendo aos carrosséis dos mais pequenos, ou para os convívios com outros casais, dando primazia à zona dos comes e bebes.

Até por isto as festas do Senhor de Matosinhos são mágicas. Têm as respostas para as necessidades e interesses de todas as idades. Talvez esteja aqui a resposta ao sucesso que estas festas têm junto da população do norte do país. Não podemos esquecer que são das festas mais concorridas e conhecidas nos distritos do Porto e limítrofes.

Quanto ao programa das festas, este renova-se anualmente, umas vezes mais ousado, outras mais comedido. Contudo, sempre variado e procurando a um público eclético. Mas há espetáculos que se mantêm de ano para ano e que se tornaram o ex-libris das festas.  A este nível tenho de colocar a procissão, o fogo de artifício e o fogo preso.

A procissão porque é um dos momentos altos das festas do Senhor de Matosinhos e o momento onde a festa sagrada ultrapassa a profana. Não podemos esquecer que a origem da festa é sagrada e tem origem na lenda do Senhor de Matosinhos, uma das mais conhecidas em todo o norte de Portugal e que já relatei noutras ocasiões.

O fogo de artifício pois é na noite de sábado que temos uma das maiores enchentes nas festas. Gostemos ou não, a verdade é que o fogo de artifício sempre atraiu as pessoas e ainda hoje continua a ser um espetáculo que maravilha. Não é por acaso que hoje em dia, na grande maioria dos casamentos, a cerimónia do corte do bolo da noiva se faz com fogo de artifício. Também nos grandes momentos solenes, mesmo a nível político, o espetáculo pirotécnico está quase sempre presente.

Curiosamente, fui chamado para esta realidade através dos meus alunos do 6º ano de escolaridade. Estávamos a ver um excerto do filme Maria Antonieta, que retrata a vida da rainha francesa que foi guilhotinada na altura da revolução francesa, quando nas festas do seu casamento apareceu um espetáculo de fogo de artifício. Os alunos questionaram-me então sobre a existência de tal acontecimento no século XVIII e dei comigo a lembrar-me do Senhor de Matosinhos.

Por fim, o fogo preso ou fogo de bonecos. Para mim é algo que dá uma personalidade própria ás festas. Muitas pessoas deslocam-se a Matosinhos apenas para verem aqueles bonecos – representando algumas profissões, desportos, ou outras atividades – a rodarem e a estourarem. Para mim também é mágico ver a deslocação das pessoas de boneco em boneco para não perder pitada do que está a contecer.

Concluindo, seja por que razão for, seja em que idade seja, vale sempre a pena vir às festas do Senhor de Matosinhos.

Até à próxima semana.

Saudações leceiras

Joaquim Monteiro


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