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A Câmara de Matosinhos só queria construir um tanque de natação. Até que Siza Vieira pegou no projeto e criou um monumento – a Piscina das Marés.
Classificada como Monumento Nacional desde 2011, a Piscina das Marés de Leça da Palmeira era para ser um simples tanque de água salgada, mas o génio de Álvaro Siza Vieira transformou-o numa obra fundamental da arquitetura portuguesa.
A piscina que é uma obra de arte faz 50 anos
Unanimemente destacada pela importância que adquiriu no percurso criativo do então jovem arquiteto matosinhense, a Piscina das Marés, inaugurada em 1966 e propriedade da Câmara Municipal de Matosinhos, dá corpo a uma abordagem que sublinha a relação entre o artificial e o natural.
A história da Piscina das Marés
A história da Piscina das Marés, uma das obras mais emblemáticas do arquiteto portuense Álvaro Siza Vieira, começa 20 anos antes, com uma carta da Câmara de Matosinhos, empenhada à época em recuperar a importância da zona como estância balnear. Em março de 196o, a autarquia assume, pela pena do engenheiro civil Bernardo Ferrão, que “a construção de uma piscina de água salgada nas imediações da praia de Leça (…) constitui uma aspiração antiga”, e que tinha chegado a hora de a concretizar. Orçamento: 200 mil escudos.
Escolhido o local, numa depressão que permitira poupar muito trabalho em escavações, em novembro de 1959 a autarquia decide contactar uma empresa de obras públicas, especializada em obras marítimas. Só que, no decorrer de um projeto que se pensava simples, surge a necessidade de se pensar no enquadramento urbanístico da obra com a paisagem envolvente. Nesta fase, é chamado um jovem arquiteto de 26 anos. Bernardo Ferrão conhecia Siza Vieira das colaborações com o seu irmão, o arquiteto Fernando Távora.
Duas das primeiras decisões foram construir um tanque para as crianças e desistir da ideia de esperar pelo vai e vem marítimo. Para cumprir as regras de higiene, a piscina seria enchida com água do mar, sim, mas tratada. A 25 de março de 1960, 10 dias depois da carta com a memória descritiva, o Secretário Nacional de Informação, Moreira Baptista, faz uma visita ao local onde iria ser construída a Piscina de Marés, tal como a conhecemos hoje. A obra fazia parte de uma estratégia maior de tornar Leça da Palmeira uma atração balnear forte. Para além da inauguração da Casa de Chá da Boa Nova, destaque para a abertura, em 1959, da ponte móvel sobre o Porto de Leixões, que ligava Leça a Matosinhos.
50 anos depois, a Piscina das Marés mantém-se em funcionamento
Na segunda fase chegaram as preocupações com as instalações anexas, ou seja, os balneários, os sanitários e também a intenção de construir um restaurante que, por falta de meios, acabou por ser substituído por uma cafetaria. Para a construção, o arquiteto deixa clara a sua predileção pela simplicidade e o betão: “Os edifícios construídos com paredes de betão descofrado e cobertura em madeira, revestida com chapa de cobre, sobre telas asfálticas.”
50 anos depois, a Piscina das Marés mantém-se em funcionamento e continua a ser citada como uma das obras mais emblemáticas da carreira do arquiteto que também projetou o Museu de Serralves, no Porto, o Museu para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, ou o Centro Galego de Arte Contemporânea.
Siza Vieira, Piscina das Marés e Leça da Palmeira
Siza Vieira projetou a Casa de Chá da Boa-Nova pouco tempo antes, quase em simultâneo com a Piscina da Quinta da Conceição, no final dos anos 1960. O curso de Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes do Porto tinha sido concluído em 1955, o que faz destes monumentos algumas das primeiras obras do jovem arquiteto. A ideia inicial da Câmara Municipal de Matosinhos era, na verdade, construir um tanque, alimentado pelo vai e vem do vizinho Oceano Atlântico.
É em Leça da Palmeira que se encontram alguns dos seus trabalhos mais emblemáticos: a Piscina da Quinta da Conceição (1958-1965), a Piscina das Marés (1961-1966), a Casa de Chá da Boa Nova (1958-1965) e mais recentemente a marginal de Leça da Palmeira (2006) que, para além de unir estas duas últimas obras, resulta num espaço adaptado às suas novas funções e características de centralidade e de espaço de lazer.
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