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Na semana passada estava numa reunião com um grupo de jovens de Leça da Palmeira e falou-se sobre cascatas. Para surpresa minha os jovens não faziam a mínima ideia do que era uma cascata. Ou melhor, sabiam e sabem o que é uma cascata (queda de água), mas não imaginavam o que era a cascata dos santos populares que se fazia em Leça da Palmeira e que outrora já foi uma das marcas da nossa freguesia.
Infelizmente parece-me que esta é mais das tradições que tende a acabar. Nós, os mais velhos, por algum motivo não conseguimos transmitir aos mais novos as nossas tradições. Sei que é difícil, que estes jovens vivem num mundo diferente, que conhecem uma Leça da Palmeira totalmente diferente da nossa de há 30 ou 40 anos, mas creio que seria importante faze-lo.
No caso concreto das tradições, o Rancho Típico da Amorosa tem feito um trabalho notável na transmissão da nossa cultura e das nossas tradições. Mas não é suficiente se não conseguirmos fazer com que os nossos jovens compareçam nessas recriações. No caso concreto dos santos populares e das cascatas, o Rancho Típico da Amorosa chegou mesmo a promover um concurso de cascatas.
Ainda me lembro do tempo das «rifas» e das cascatas, da magia que era ver algumas das cascatas com movimento de águas e de bonecos e, sobretudo, da alegria que era abordar as pessoas na rua, com um boneco da cascata na mão e pedir «um tostão para o S. João».
[h2]As Cascatas são uma tradição leceira do mês de junho[/h2]Recorrendo ao arquivo do Jornal «A Voz de Leça», onde podemos recordar muitas das tradições da nossa freguesia, relembro aqui um artigo do Engenheiro Rocha dos Santos, no jornal de junho de 2008, num artigo denominado «Tradições de Leça», a certa altura referia que:
Uma tradição leceira deste mês de junho é a cascata, que nos traz à memória o deslumbramento da imaginação, da harmonia e da inocência do representar o quotidiano da nossa terra em pequenas figuras de barro compradas na feira da louça do senhor de Matosinhos. A festa era tal que até se cantava: S. João da Boa Nova. / Nós te qu’remos festejar! / E se queres uma prova, / A tradição se renova, / ‘Stamos na rua a cantar! / … Da nossa terra formosa, / Foste festa popular! /E desta forma amorosa, / Vem tua Leça briosa, / A tradição reatar. As crianças na rua faziam uma pequena cascata, e por vezes só com um dos Santos na mão, pediam “um tostãozinho para a cascatinha”.
Ainda do Engenheiro Rocha dos Santos, na “Voz de Leça” de julho de 2009, na edição número X da sua crónica Leça da Palmeira Antropológica, temos um belíssimo artigo a respeito das cascatas de Leça da Palmeira e das suas origens. Refere o Engenheiro Rocha dos Santos:
«Faz parte das tradições leceiras, chegado o mês de junho, comemorar os Santos Populares, com mais forte incidência no S. João, sendo imprescindível para além dos bailaricos, fazer a cascata. Nas cascatas leceiras sobressaem as dos senhores José Moreira, nosso vizinho, e do João Soares. Duas cascatas movimentadas, com grande pormenor, representando cenas e pessoas da vida local, feitas com todo o cuidado e com a preocupação de tudo registar.
Nesse mesmo artigo são-nos apresentadas imagens belíssimas de algumas das cascatas referidas, pelo que vale a pena visitar os arquivos do jornal para recordar as cascatas leceiras.
Já agora, refiro também um artigo da Marina Sequeira, na «Voz de Leça» de julho de 2009, referente a cascatas em locais improváveis, nomeadamente num salão de cabeleireira e num café-bar. Podiam ser locais improváveis mas serviam para manter viva uma tradição que não devia desaparecer.
Até à próxima semana.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
Eu sou um coletor espanhol de figuras de presepe e quer saber se é possível obter os endereços dos artesãos que fazem os bonecos da Cascata de Leça da Palmeira. Moito obrigado,
Obrigado Joaquim Monteiro,pelas suas cronicas sobre Leça não só, sobre a parte cultural mas no geral,não sendo natural de Leça vivo cá e por isso acompanho todas as noticias sobre Leça me interessam.