Cuidadores informais desconhecem o estatuto criado para os defender e apoiar

Matosinhos a Cuidar
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Inquérito nacional de nome “O que é ser cuidador Informal em Portugal” confirma que aqueles que conhecem o estatuto consideram-no pouco abrangente, burocrático e insuficiente.


Foi no final do ano de 2019 que os cuidadores informais em Portugal viram finalmente os seus direitos reconhecidos, através da criação de um estatuto que se destina a reforçar a sua proteção. No entanto, mais de um ano depois, cerca de 6 em cada dez (59,1%) cuidadores informais desconhecem a existência do Estatuto do Cuidador Informal. E, dos 40% dos inquiridos no estudo realizado pelo Movimento dos Cuidadores Informais que de facto o conhecem, a esmagadora maioria (77,2%) considera-o incompleto.

De facto, 22,1% destes inquiridos definem o documento como pouco abrangente, criticando o acesso aos apoios nele definidos, que consideram muito burocrático e limitado (21,3%), apoios esses que são ainda, para 20,1%, considerados insuficientes. A falta de regulamentação e apoio na carreira profissional e contributiva do cuidador (13,3%) e a falta de apoio financeiro (9,8%) são outros dos aspetos que merecem destaque.

Realizado com o apoio da Merck, o estudo quis ouvir aqueles que se dedicam informalmente a cuidar de alguém querido, para ajudar a perceber quem são, o que fazem e quais os desafios que enfrentam diariamente. E as mais de mil entrevistas validadas revelam que a grande maioria dos cuidadores tem apenas um dependente a seu cargo (69,7%), existindo, no entanto, 15,8% que têm sob a sua responsabilidade dois ou mais dependentes. 

A maioria dos cuidadores informais cuida da mãe ou do pai (51,4%), do cônjuge (18%) ou dos filhos (12,7%), sendo as principais limitações ou doenças que justificam a necessidade de cuidados as relacionadas com o foro mental e psíquico: doença de Alzheimer/Demência (32,6%), AVC (12,4%) e diabetes (6,4%). 

É sem surpresa que o estudo confirma que a maioria (56,8%) não se encontrava preparada para assumir o papel de cuidador, que traz consigo vários desafios: falta de apoio emocional/psicológico (64,6%), de apoios relacionados com Estado (59,1%), de apoios financeiros (51,8%), entre outros. São, por isso, muitos (41,2%) os que salientam a necessidade de receber formação específica em algum aspeto do processo de cuidar. 

(…) cerca de 14% da população é cuidador informal

Sobre as respostas sociais e os serviços à sua disposição, 81,3% consideram-nos insuficientes, realçando a necessidade de auxílio na prestação de cuidados (46,9%), apoio financeiro (39,6%) e apoio psicológico (13,5%). O que justifica também que 90,5% dos cuidadores manifestem o desejo de ter mais tempo para voltar às rotinas existentes antes de se tornarem cuidadores. 

Ao todo, 75,4% das famílias dos cuidadores sofreram alterações na sua dinâmica/rotinas a partir do momento em que o cuidador começou a exercer essa função, com 48,7% dos cuidadores obrigados a abandonar ou alterar o seu trabalho/profissão e 87,1% a confirmarem a necessidade de descanso/férias, impossível pelo facto de não existir resposta social que o permita. 

Um trabalho difícil, agravado pela pandemia, que se traduziu numa sobrecarga emocional, teve impacto na qualidade de vida e bem-estar e na saúde mental. 

Segundo o último estudo feito à população portuguesa realizado pelo Movimento, em 2020, cerca de 14% da população é cuidador informal, número que em 2018 era apenas de 8%, o que permite concluir que a pandemia pode ter aumentado o número de cuidadores informais em Portugal. 

O estudo foi realizado por via dos métodos CATI (telefónico) e CAWI (online). Foram recolhidas e validadas 1133 respostas entre os dias 3 de fevereiro a 11 de março de 2021.



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